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Hoje eu me permiti (…)

Por: Redação
01/03/2024 às 15h41
Hoje eu me permiti (…)

Depois de seis dias da morte da minha amiga María Del Valle, estava dirigindo o carro na orla da cidade em que moro, tocou uma canção no rádio. Another Day de Buckshot LeFonque. De repente aquela harmonia da música trouxe à tona a dor de ter perdido uma amiga tão querida. Toda a lágrima que eu havia guardado para me fazer forte frente aos entes queridos, começaram a cair sem parar do meu rosto. Estava sozinha no carro, então, permiti que elas fossem caindo enquanto eu ia dobrando as esquinas. De repente, percebi que a vida é extremamente rara e agradeci por estar simplesmente ali aprendendo o quão pedagógico o sofrimento é.

Em seguida, começou a tocar Deborah Blando [Con Le Mie Lacrime Così] de um disco antigo dela, quando ainda cantava em Italiano. A essa altura, já estava quase chegando na garagem de casa e, tratei de me colocar forte novamente - fui adentrando com o carro. Ainda assim, me perguntei: como estará minha amiga neste momento? onde estará? como está se sentindo? 

Apertei o botão do 7º andar no elevador e, recordei da entrevista que o Reverendo Isaías Galdino de Sales, da Igreja Presbiteriana de Ribeirão Pires deu para a Rádio ABC ao interagir com o Radialista e Delegado, Luis Fabiano. Ali, o Reverendo citou um pouco das narrativas de Jó na bíblia e citou uma obra do autor Hermisten Maia, do livro O homem no teatro de Deus.

Fui me recordando da pregação dele em forma de entrevista e o quanto aquelas palavras, ‘falaram’ ao meu coração a respeito do temor que nutrimos da morte. Eu sou cristã, também e, mesmo com a tranquilidade de saber que minha amiga aceitou Jesus em seus últimos momentos no leito, ainda sinto aquele aperto no coração pela perda.


Há amigos que são mais chegados que irmãos [Provérbios 18:24]

E, bota verdade nisso.

Na mesma semana [há exatos 6 dias] após recém chegar de Mendoza, na Argentina, momento em que retornava da visita à minha amiga, para me despedir e apresentar Jesus a ela, perdi também minha tia Mariana, esposa do meu tio-avô Izidoro. 
Quando recebi a notícia, me recordei que, há poucos meses antes, eu a havia encontrado no shopping da cidade de Santos, pertinho aqui de onde moro e, conversamos um pouco. Ela estava animada por uma viagem que faria a Santa Isabel, com o esposo e o filho Dawerson. Eu desejei boas festas e, fomos embora tranquilamente. Ela partiu 02 anos após a perda do Carlão [Carlos Alberto], meu primo, quem faleceu rapidamente após contrair COVID-19. Pois bem. Compareci à missa de 7º dia e, dei meus cumprimentos com meu esposo aos entes queridos. Ainda perplexa em, como somos subtraídos deste mundo, fui tentando absorver os acontecimentos. Olhei para o céu e, Deus falou ao meu coração dizendo, mas filha, eu te avisei por meio de sonhos, meses atrás, não se lembra? Respondi em pensamento a Deus, agradecendo por ter me preparado, ainda que no meu inconsciente para os acontecimentos que viriam. 

Em minhas colunas, raramente exponho nomes, lugares e crenças. Mas como tampouco as pessoas, os locais e as crenças são limitantes, assim: me permiti. 
Me permiti hoje gritar nestes escritos a clareza que vejo na diferença entre providências e fatalismos. Deus governa toda a criação, mas suas criaturas são responsáveis por seus próprios atos e, mesmo assim, Ele não deixa de ser soberano sobre tudo. Palavras de Hermisten Maia


Somos nós atores protagonistas no teatro de Deus?

Eu também não tenho essa resposta. 
Mas o que sei, com firmeza é que, Deus nos dá pequenos e grandes regalos todos os dias. Por exemplo, permitiu que eu e os outros amigos, familiares pudéssemos nos despedir da María. Permitiu a preparação para a mudança brusca que viria a seguir. Nós recebemos presentes todos os dias, o próprio respirar, mas sobretudo, o fato de aprender com o sofrimento.


O sofrimento é pedagógico.
Minha tia Mariana e eu convivemos pouco, apesar de morarmos há pouco quilômetros de distância.

Curiosamente, sinto mais perto o laço que criei, não de sangue, com o esposo da María, Bernardo, os filhos Morena, Camilo e a Glória [a mãe da María], que moram ali pertinho da Cordilheira dos Andes do que os laços de sangue que a vida me trouxe. 
A María gostava de fazer ‘fideos’, é o nome que eles dão para a ‘pasta’, ela fazia macarrão ao molho branco, do jeitinho dela com uma ‘ensalada rusa’ e ‘pollo’. Ainda consigo me lembrar do gosto e, da primeira vez que os vi quando fui estudar na Argentina. 
Uma casa muito colorida, as paredes todas alegres e, o ‘pateo’ com um cheiro de lar tão grande que encheu meu coração de alegria. 
De lá para cá, creio que 2004, nos tornamos família.

 

Eles vieram ao Brasil, conheceram meus pais, irmã e, me lembro até hoje: depois de um tempo passeando pelo Brasil e conhecendo minha cidade natal, Ribeirão Pires, quando minha mãe foi se despedir da María Del Valle, as duas começaram a chorar de emoção [ainda que timidamente, pelo laço feito de forma tão pura e, tão rápido]. De medo de não se ver mais. 
O mais curioso disso tudo é que meus pais não falam Espanhol e, meus Amigos & Hermanos Argentinos, naquela ocasião não falavam ainda Português. Mas o idioma nunca foi impeditivo. A conexão de alma estava estabelecida
O Camilo e a Morena ainda eram pequeninhos e, deixamos eles aos cuidados dos meus pais, que puderam ter o gostinho de ficar de avôs postiços, enquanto eu mostrava a cidade a eles. 

As memórias são tantas e o carinho é único. 
Os sinto muito perto e, hoje eu me permiti. As lágrimas correram, veio o agradecimento a Deus pela passagem da minha amiga e, depois de chorar, me levantei, olhei novamente para o céu, mas principalmente olhei para dentro de mim e, mais uma vez agradeci a Jesus por me permitir andar mais um pouco em direção a Ele. Deus está sempre se comunicando conosco, basta que nos acheguemos a Ele. 

Que este mês de março traga calma, tranquilidade e, mais do que nunca conexão com o Altíssimo
[Estes escritos são dedicados a María Del Valle Lorena Herrera]

Te queremos mucho amiga!

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FabioHá 1 ano Sao pauloExcelente!
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