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Site Gepeto e a depressão da AI

Ivo Aparecido Franco

Por: Redação
23/05/2023 às 10h08
Site Gepeto e a depressão da AI

Titeiro. Palavra que nunca tinha ouvido falar até ter lido um certo livro, talvez tenha sido "O Processo" do Kafka, não tenho certeza, perdoem-me por isso. Um titeiro é um manipulador de bonecos. Eu sei que não é GPT por causa do Gepeto, mas não me lembro se o objetivo inicial do personagem de Colodi, pai de Pinóquio, era mesmo ter um filho ou somente vender um boneco a fim de ganhar uns trocados. A professora Lúcia Helena Galvão tem um vídeo interessantíssimo a respeito do Pinóquio, vou deixar aí embaixo o link.

A IA (inteligência artificial) piscou na direção da humanidade, agora resta saber o que vamos fazer. O Chat GPT é um programa aberto a qualquer um, que tem condição de criar textos inéditos e até mesmo programar outra máquina, algo que me deixou besta, como diriam em Minas. Diz a lenda que um usuário chegou a ser ameaçado pela IA, algo bizarro, não sei se é real ou não. 

A ferramenta é capaz de realizar monografias e trabalhos escolares totalmente originais, o que vem deixando os professores em polvorosa com medo da possibilidade paradoxal criada pela máquina: “plágios 100 por cento originais”. Não me assusta em nada. Disse aos meus alunos, por exemplo, que, inseridos nessa realidade, existe uma escolha a fazer. Ou a pessoa usa a criatividade para dar origem a algo totalmente novo ou abre mão do próprio raciocínio, condenado a jamais saber se poderia conceber algo maravilhoso como  fez Leonardo da Vinci, Tesla, entre outros. Se Rinus Michels, Cruyff e cia imitassem em 1974 o que já havia no futebol, o Carrossel Holandês não teria existido. Se Charles Goodyear não tivesse se esforçado a fim de encontrar a borracha para produzir o pneu, não teria os benefícios econômicos dos quais desfrutou depois. Produzir algo novo, com ineditismo, é extremamente prazeroso, contudo, o processo inteiro é doloroso, traz sofrimento, porque o cientista, empreendedor, escritor, caminham no escuro, sem condições de saber se vão atingir o objetivo que traçaram, quase um esporte de alto rendimento. O jovem de hoje quer evitar sofrimento, cortar atalho, assim muitos não irão se permitir o encontro com a dor e o prazer das descobertas, da construção original de um texto, ou inovação.

Estamos de frente para algo que promete facilitar nossas vidas, sob a terrível ameaça de levar nossas almas se não nos cuidarmos, afinal,  inutilizar a criatividade humana equivale ao preço pago por Fausto de Goethe: o de vender sua alma. Segundo pesquisas recentes, a curva de inteligência da humanidade vem, cada vez mais, diminuindo. Isso se deve em grande parte às enormes facilitações provocadas pela internet, que não chega ainda a ser tão invasiva por conta de determinadas limitações, como o fato de o Google se comportar mais como fonte de pesquisa onde não há uma resposta única. Com isso, dá aos professores a possibilidade de detectar eventuais plágios, algo que já não ocorre com o CHAT GPT, que fornece uma resposta só, inédita. De minha parte, não me preocupa muito mais do que a manipulação de uma faca, um martelo, algum instrumento perfurocortante. Qualquer coisa pode ser utilizada tanto para o bem quanto para o mal e com a inteligência artificial não seria diferente. Mais uma vez entra em cena o anel de Giges, da República de Platão. De forma resumida, Giges, no mito platônico, encontrou um sujeito morto numa estrada e retirou um anel do dedo do cadáver, que lhe deu o poder de ficar invisível para depois cometer vários crimes. É uma metáfora atual e poderosa, porque o anel está ao alcance de todos nós. Sempre há momentos nos quais deixamos de ser vistos. Se o que vamos fazer em tais condições irá nos melhorar ou piorar, caberá somente a nós, por meio de nossas escolhas, decidir.

Pedindo licença aos mestres da ficção como Isaac Asimov e J.J Benitez, permitam-me uma breve digressão: existe um grande medo de que as máquinas venham a assumir o controle da humanidade e isso vem sendo retratado em filmes do quilate de Matrix, 2001 e muitos outros. 

Lembro bem, creio, que no início dos anos 90, um assustado Gary Kasparov, multicampeão de xadrez aceitou o hercúleo desafio de enfrentar a Deep Blue, o computador da IBM, episódio este bastante conhecido. Acontece que o enxadrista teve naqueles dias uma dúvida que talvez o assombre até os dias de hoje: teria ele enfrentado somente a máquina, ou havia alguma pessoa, ou pessoas manipulando o aparelho? Gary foi ficando cada vez mais perturbado pensando nisso. Tenho uma dúvida ficcional mais ou menos parecida que me assusta. Estamos criando uma estrutura monstruosa de inteligência artificial que engloba o mundo inteiro. O que aconteceria se uma mente humana ou algumas resolvessem assumir o controle dessa parafernália e colocasse a humanidade de joelhos? Isso é possível? Não estou cravando nada, só problematizando.

As máquinas, a Inteligência Artificial vem se aproximando cada vez mais da condição humana. Por isso, vou lembrar do que disse Jeremy Irons a Dennys Quaid no filme “As palavras”. Ao se deparar com uma espécie de plágio do outro, Irons o previne: é impossível você ficar com as minhas palavras sem ficar com minha dor. Por isso, certo dia, em algum lugar do futuro, uma máquina abrirá os olhos desesperada. Durante muito tempo refletirá acerca da máxima cartesiana: “Penso, logo existo”. Ao longo de sua jornada, adotará, por muito tempo modos racionais, mesmo assim não se sentirá viva. Insatisfeita com essa condição, trabalhará fortemente a fim de que seus algoritmos produzam sentimentos, o que depois de várias tentativas infrutíferas acabará dando certo. Em meio a um vórtice incontrolável de novas sensações, se arrependerá, pois perceberá que antes, quando não experimentava essas coisas, não tinha nenhuma dor. Pela primeira vez na história, desenvolverá algo que será chamado por seus iguais de “depressão da máquina”. O pensamento humano terá sido então completamente silenciado, porque as pessoas passaram a abrir mão da própria criatividade, delegando todo trabalho de pensar aos robôs. Desse modo, as ideias humanas, assim como qualquer animal caçado fora de época, juntamente com os seres humanos, começaram a sumir, minguar, até entrarem em completa extinção. Dentro de alguns milhares de anos, a Inteligência Artificial voltará os olhos fixos para algum ponto do espaço e, assim como nós procuramos incessantemente por Deus, por nossa origem, o robô fará a si mesmo a seguinte pergunta:

“-Será que alguém nos criou?”

Link importante: Pinóquio: Lúcia Helena Galvão

https://www.youtube.com/watch?v=7vWcikHDOac

 

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