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VOCÊ SABIA?

Por: Redação
11/01/2023 às 20h44 Atualizada em 12/01/2023 às 00h52
VOCÊ SABIA?

Professora Renata Saggioro Silva

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Na década de 80 havia uma revistinha que trazia essa indagação. Sempre destacava essa pergunta “você sabia?” e logo depois vinha um questionamento ou conhecimento curioso. Era sempre algo inusitado, uma curiosidade geral, cultural, biológica ou histórica... eu particularmente adorava. Na maioria das vezes era algo que eu não sabia, não conhecia, que podia não fazer diferença nenhuma na minha vida de forma geral, mas naquele instante eu me sentia empoderada por “saber, conhecer algo novo”. Isso me enchia de alegria, provavelmente porque movimentava no meu cérebro algumas ligações/conexões neurais (que fazem parte do desenvolvimento humano). Era como se fosse um combustível: tanque cheio para um carro, ou como se fosse ar para uma bexiga. Realmente essa “euforia” era momentânea e me preenchia com encantamento, mas de vez em quando era possível contar, replicar esse conhecimento pra alguém, o que me enchia de orgulho, satisfação, alegria. Isso me fazia sentir vontade de aprender mais, estudar mais, pesquisar mais, era o prazer do “conhecer”. 

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Conforme estudos em CNV – Comunicação Não Violenta, de Marshall Rosenberg-  comunicação é uma necessidade humana universal que, em minha perspectiva, sempre viria carregada de otimismo, autenticidade, honestidade, e  sabia que a confiabilidade era maior, afinal era uma revista renomada, reconhecida pelos acadêmicos, e por isso me sentia encorajada a multiplicar a informação.

Conhecimento é um ato de identificação cognitiva, enquanto reconhecimento é um ato de cunho moral, sendo que ambos são importantes quando falamos sobre informação. Conhecer a fim de saber identificar um bom texto. Reconhecer, para saber se os dados estão corretos e se é certo passá-los adiante, se serão úteis à sociedade. As redes sociais têm tomado conta do universo mental e até físico das pessoas: há preguiça ou falta de costume em pesquisar  fontes confiáveis. Pressa ou desinteresse em ler textos grandes (ou livros), por consequência, muito “achismo”, opiniões equivocadas, fora do contexto ou “fora da casinha” para ser mais exata. 

Não há problema em ter a própria opinião a respeito de um assunto, pois é legítima a necessidade humana de empoderamento e comunicação. Todo mundo quer ser visto ou ouvido, o que muitas vezes leva ao uso de estratégias inadequadas para chamar atenção, que vão desde uso de dados inverossímeis até nenhuma base em experiências anteriores bem sucedidas naquele campo determinado. Replica-se palavras repetidas sem pensar, frequentemente inverdades, que depois de serem ditas tantas e tantas vezes, quase que por alquimia, se transformam em verdades absolutas.  A própria pessoa acredita no que está dizendo apesar da completa inexistência de alguma prova factual. 

Como estamos um pouco saturados do tema “fake News”, principalmente relacionado à política, recorrerei a outros tipos de exemplo acerca do tema. Nesse sentido, a arte é uma grande ferramenta não apenas como entretenimento (outra grande necessidade humana) mas também, ponto chave de reflexões que instigam conhecimento. 

Estava assistindo a um desenho animado (e de forma recorrente são cheios de lições,  reflexões,  conhecimentos histórico-culturais) “Pé Pequeno, uma aventura gelada”, de Karey Kirkpatrick e Jason Reisig. Chamaram minha atenção algumas falas dos personagens extremamente verdadeiras, bastante alusivas acerca de como o povo tem sido enganado ao longo dos séculos. Os autores usam inversões de pontos de vista para engendrar essa trama. (mesmo sendo destinado ao público infantil, vale a pena os adultos assistirem). Da obra, destaco a seguinte fala: “Questionar gera conhecimento. Conhecimento é poder”. “Nós (poderosos), temos que proteger as pessoas da realidade, USANDO A MENTIRA, pois se conhecimento é poder, o que você fará com todo conhecimento que obtiver? O mesmo acontece no famoso e premiado filme “Matrix” (1999), que mostra como somos transformados em bonecos nas mãos dos poderosos, nas mãos de poucos, que escolhem por nós, decidem por nós quais oportunidades teremos, onde e como viveremos. Por meio da abordagem de ficção científica e de um mundo fantástico,  nos leva a refletir sobre qual nosso papel na sociedade. Será que estamos sendo manipulados? Quanto somos manipulados? Desde quando? Por que não temos o poder de escolha? Ou quando temos, aproveitamos esse poder? Temos nossas necessidades humanas atendidas?

Há um grafite no muro de uma escola estadual em Diadema que achei fenomenal, porque descreveu  em poucas palavras o que é direito: “DIREITO NÃO É AQUILO QUE ALGUÉM TEM QUE LHE DAR, MAS SIM AQUILO QUE NINGUÉM PODE NOS TIRAR”. 

Surgem questionamentos fundamentais a partir disso:

Se eu não conheço meus direitos, como vou cobrar?

Se não tenho oportunidades, como vou conhecer?

Se tenho direitos garantidos e consigo adquirir conhecimentos, o que farei com eles?

Ter conhecimento envolve responsabilidade, afinal, supostamente, temos liberdade em nossas escolhas. 

Ouvi na TV um homem falar sobre inflação. Era uma reportagem sobre o preço do bacalhau e outros alimentos natalinos. O repórter perguntou o que ele achava dos altos preços. "A gente tem que se acostumar com os preços altos", respondeu. Isso me deixou primeiramente indignada, depois extremamente reflexiva. Se conformar? Como assim?  Essa reportagem, assim como vários outros fatos, foi como um balde d´água fria nas ideias, mas foi bastante representativa da realidade.  Nosso povo se conforma, obedece, segue, e o pior, multiplica, passa as mentiras adiante. Não temos que nos conformar, precisamos mudar essa realidade, de alguma maneira: estudar sobre o assunto, se manifestar de alguma maneira.

Minha finada e honrada avó Crolinda era analfabeta até os 60 anos, porque teve que trabalhar na roça para ajudar no sustento da família, e não tinha como estudar, (como milhões de brasileiros ainda hoje), contudo, sabia a importância da escola, da educação, do conhecimento, dos professores. Não sabia escrever nem o próprio nome, mesmo assim olhava os cadernos dos nove filhos todos os dias, com atenção, carinho e cuidado. Dizia: “Nossa! Que lindo seu caderno, sua letra, parabéns, continue assim”, entre outras palavras gentis. Nunca chamou nenhum filho de “burro” e ela mesma aprendeu a ler depois dos 60 anos, porque era um dos seus sonhos. Jamais deixou os filhos faltarem à escola. Um chegava do colégio e emprestava o sapato para o outro porque não havia calçados para todos, tamanha era a pobreza. Na chuva, desciam a rua descalços, a fim de não sujá-los nas poças de lama e só os calçavam perto da escola. Andavam alguns quilômetros a pé, sozinhos. Não havia justificativa para faltar, a escola era mais importante que tudo e minha avó entendia que era a única forma de tomar as rédeas da vida. A finada e amada sogra Edna também dizia aos filhos: “conhecimento é a única coisa que ninguém pode lhe tirar, então estude”. Minha mãe maravilhosa, guerreira Cuentilha sempre me estimulou: “leia tudo o que vier a sua mão, sempre.  Não importa que material seja”. Isso é algo que infelizmente tem faltado às novas gerações, tão ávidas por celulares em detrimento da leitura de textos mais complexos. 

Ter conhecimento envolve responsabilidade. Assisti ao programa do Luciano Huck, na entrega de prêmios, no último final de semana de 2022. Apresentaram um jovem negro, com problemas de saúde, que nasceu e viveu na favela, mas tinha o desejo de ter uma condição de vida melhor, de melhorar as oportunidades de sua comunidade. Juntou dinheiro, foi a Portugal e voltou chef de cozinha. Fez um projeto em sua comunidade,  ensinando homens e mulheres o ofício,  empoderando essas pessoas,  dando-lhes estudo, fornecendo ferramenta de conhecimento para construir ou reconstruir suas próprias vidas. Muitos, hoje, já trabalham na área. Nada de riqueza, luxo ou glamour,  apenas muito estudo (cursos, conhecimento), bastante trabalho mas finalmente dignidade suficiente para conseguir sobreviver,  sustentar a família, garantir direitos básicos de saúde, moradia, educação, alimentação.

Dignidade é uma necessidade humana, como diria o poeta Arnaldo Antunes, na música interpretada pelos Titãs “Comida”:

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Você tem sede de quê?

Você tem fome de quê?

A gente não quer só comida

A gente quer comida, diversão e arte

A gente quer saída para qualquer parte

A gente quer bebida, diversão, balé

A gente quer comer e quer fazer amor

A gente não quer só comer

A gente quer prazer pra aliviar a dor

A gente não quer só dinheiro

A gente quer dinheiro e felicidade

A gente não quer só dinheiro

A gente quer inteiro e não pela metade

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O conhecimento é necessário: a escola, os professores e profissionais que nela trabalham. É necessário para que possamos ter escolhas, liberdade, vida digna, emprego e salário decentes. O conhecimento é necessário para que possamos suprir nossas necessidades de conforto, bem-estar, saúde integral, estabilidade, segurança alimentar e emocional, tranquilidade, amor, respeito, honra. 

Neste ano de 2023 desejo que possamos usar nosso conhecimento com responsabilidade, a favor da dignidade humana, da honestidade, integridade, liberdade, empoderamento NOSSO e de todos os seres humanos da Terra. Que possamos  trazer inovação, crescimento humano, autorrealização em prol da excelência e dos valores de uma cultura de paz. Que a filosofia, a sociologia, as reflexões sobre a vida, os questionamentos políticos e culturais façam parte da nossa vida cotidiana, sempre!

 

“Maior do que o medo, apenas a curiosidade”. Filme PéPequeno

 

 

VOCÊ SABIA? SAIBA MAIS EM

Imagem1: disponível em https://dheka.com.br/processos-intensivos-em-conhecimento-e-o-espectro-de-gestao-de-processos/ acesso em 26 dez 2022

CNV – Comunicação Não-Violenta. Instagram @MICAELACOSTA – Terapias integrativas

Comunicação Não-Violenta: disponível em http://www2.ifam.edu.br/campus/cmc/noticias/setembro-amarelo-1/comunicacao-nao-violenta-marshall-b_-rosenberg.pdf/view acesso em 26 dez 2022

Filme: Matrix: disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Matrix acesso em 26 dez 2022

ARAÚJO, Henrique. Direito. Disponível em https://www.pensador.com/frase/MjAzMTE2NA/ acesso em 26 dez 2022

Titãs. COMIDA. Disponível em https://www.letras.mus.br/titas/91453/ acesso em 26 dez 2022

 

Filme: Pé Pequeno: https://www.papodecinema.com.br/filmes/pe-pequeno/ acesso em 26 dez 2022

 

Revisão geral: 

Professor Ivo Franco e Terapeuta Integrativa Micaela Costa

 

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