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Machado de Assis e a lição de casa

12/11/2021 às 02h49 Atualizada em 04/10/2022 às 11h28
Por: Redação
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Machado de Assis e a lição de casa

Lição de casa, consumo, tecnologia e autoconhecimento: onde esses três termos se encontram? O que eles têm a ver com o sábio escritor Machado de Assis? O professor Ivo Franco nos esclarece, com toda pompa e circunstância, através de suas brilhantes e esclarecedoras palavras.

Professora Renata Saggioro Silva

(Texto escrito pelo professor Ivo Franco)

Joaquim Maria Machado de Assis iniciou sua espetacular jornada trabalhando numa padaria onde, através de ensinamentos de madame Gallot, a proprietária, aprendeu francês. Mais tarde através de suas pesquisas, tornou-se poliglota. Não apenas isso, Machado é um dos mestres da literatura mundial, junto com inúmeras outras figuras singulares como Shakespeare e Dante Alighieri. Jamais frequentou universidades.

Qual a relação desse gigante da literatura com o dever de casa? Nenhuma, pois indivíduos do quilate de Machado jamais dependeriam de lição de casa para atingir o tamanho que têm. Ao mesmo tempo, exemplos feito o dele nos indicam como realmente deveria ser o ato de estudar, algo apaixonado e espontâneo.

“Ora, Machado de Assis é um gênio, não é possível compará-lo a meros mortais”. Partindo dessa premissa, poderia ser mesmo um exercício inútil, afinal sabemos que esse autor era um prodígio incontestável. Já pensaram quantos de nossos alunos, do passado ou de hoje, também tinham uma enorme capacidade e deixaram de desenvolvê-la por não terem estudado mais? Incontáveis estudantes pararam no meio do caminho por terem esbarrado em algum obstáculo que não permitiu a eles explorarem o máximo de suas aptidões. A energia potencial está para o pêndulo assim como nossos dons estão para a sociedade: caso haja uma mão que segure o pêndulo no ponto mais alto, jamais exercerá sua cinética. Diversos fatores atuam como essa mão. Vivemos em tempos completamente visuais desde a criação da televisão e do cinema, entrementes, nunca na história da humanidade o fluxo de imagens foi tão intenso quanto nos dias de hoje. É impossível imaginar que Nicolau Copérnico em seus tempos, fosse se distrair com algum vídeo, ou que Platão fosse brincar no TIC TOC durante a elaboração da “República”.

Hodiernamente os desafios são inúmeros. Cercados por um arsenal tecnológico nunca antes visto, o livro acaba em segundo plano, mesmo sendo o único instrumento que permitirá ao estudante um confronto adequado com as próprias ideias, trabalhando-as e melhorando-as.

Se esses fossem nossos únicos desafios ainda estaríamos numa situação confortável, porque classes sociais diferentes convivem com dificuldades diversas. Mesmo apesar das abismais discrepâncias de renda, é possível apontar um ponto de intersecção entre todos esses problemas: o consumo. O consumo seduz tanto as classes mais abastadas quanto os estratos mais baixos de nossa sociedade. Os primeiros, feito Minotauro, vagam perdidos no labirinto dos desejos do capitalismo, por isso tomados de um profundo vazio, entulham suas vidas com toda sorte possível de lixo, porque é isso que sobra no final, a despeito da capacidade do meio ambiente continuar suportando.  Os outros, alijados desses bens, veem-se bombardeados o tempo inteiro dos itens que, em tese, deveriam possuir a fim de serem aceitos pelo demais e, nesse cenário, sem dinheiro para conseguir aquilo que a mídia os fez desejarem,  muitos atiram-se na criminalidade. 

Esse é o cenário que temos de enfrentar. Mais do que isso: que nossos filhos e alunos devem superar, onde a experiência dos professores fará a diferença. Não será por meio do consumo que os jovens preencherão o vazio interior e sim por meio do autoconhecimento, utilizando as grandes linhas filosóficas que guiaram o pensamento humano. Dessa maneira garantiremos a possibilidade de que a juventude olhe de forma mais cuidadosa para dentro de si própria e pare de pensar que comprar coisas é a única maneira de preencher as lacunas existenciais.

Temos de convencê-los ainda de que, mediante a complexa tecnologia que se apresenta, o conhecimento proveniente dos livros será o fiel da balança entre dominadores e dominados. Numa realidade cada vez mais tomada pelos computadores e lógica da programação, é ilusório pensar que somente com lição de casa o sujeito conseguirá desenvolver todas as competências de que necessita para viver no complexo mundo moderno.

Em determinados países os jovens precisam estudar cerca de doze horas. Que não façamos tanto. Se conseguíssemos fazer nossos jovens e crianças estudarem de três a quatro horas diárias buscando os temas que escolhessem, juntamente com uma revisão dos assuntos trabalhados em sala de aula, já seria ideal. Nesse sentido, pais e professores precisam se unir na conscientização do sujeito para que se torne um pesquisador, estude diariamente por reconhecer a importância do ato e/ou por gostar de aprender (não por pura obrigação), sabendo que a tecnologia deve servi-lo e não o contrário. A internet deve ser uma aliada para fins de pesquisas diversas, não algo que sirva apenas a horas e horas de distração. Cada coisa em seu momento. Não é um processo fácil, nem algo que deva ser conduzido à base de violência, mas é claro que dois elementos são imprescindíveis, sendo eles a persuasão e a lógica. Persuasão porque inicialmente o adulto representa a parte consciente, responsável e que deverá levar o estudante a reconhecer e compreender aquilo que deve fazer. Lógica, a fim de demonstrar, na medida do possível, qual a função de cada área do conhecimento na vida prática.

Machado de Assis foi um garoto pobre, mestiço, nascido no Morro do Livramento, como vários outras crianças nascidas em morros pelo Brasil. Cabe a nós adultos, incentivarmos as próximas gerações para que, assim como ele, sejam autodidatas, de fato construindo uma relação apaixonada com o conhecimento.

Ivo Aparecido Franco

Autor dos livros “Samurai Voador” e “Educação, o Quarto Poder”, este último disponível gratuitamente em ivofranco.wordpress.com  e no formato físico no Clube de Autores;  Professor de Educação Básica  na rede Municipal de Diadema desde 2009; Formado em Direito pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo; formado em Pedagogia e História pela Unimes;  Contato: ivo_franco@yahoo.com.br e Blog: ivofranco.wordpress.com

Referências

Imagem 1: Disponível em https://br.pinterest.com/pin/392376186281572640/ 

 

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Professora Renata Saggioro Silva
Sobre o blog/coluna
Pedagoga, Professora de Educação Básica desde 1996 (Diadema e SBC), Coordenadora Pedagógica (Prefeitura de Diadema), Dançarina profissional e professora de Danças Brasileiras e Ciganas, Pós-Graduada pela USP em “Combate à Violência doméstica contra crianças e adolescentes”, pela PUC em “Teatro e Psicodrama”, pela FMU em “Dança na escola e Danças Brasileiras”, pela IEGABC em “Arte Educação e Psicopedagogia”. Ministrante de alguns cursos e palestras sobre arte-educação.
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