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PEDAGOGIAS

Por: Redação
24/10/2024 às 20h05 Atualizada em 27/10/2024 às 17h19
PEDAGOGIAS

Dia dos Professores: uma data a ser comemorada? Não sei. Ainda falta muito para isso acontecer. Um grande retrocesso tem nos envolvido. Precisamos avançar, precisamos da parceria da família e sociedade, pois a escola sozinha não ‘dá conta’. Educar e cuidar é DEVER de todos. Sonhar, pensar, se encantar, aprender, é DIREITO de todos.
Professora Renata Saggioro Silva

Paulo Freire nunca foi tão conhecido quanto agora, quando completaria 100 anos. Por que será?

Em meio ao caos educacional, à pandemia, à divisão política em que nosso país se encontra, um homem tão falado no mundo inteiro e conhecido no Brasil (antes) apenas pelos educadores, hoje está mais que famoso, mas de um jeito estranho: sua memória sendo criticada, execrada... mas porque?

Paulo Freire dizia que “a educação não muda o mundo, a educação muda as pessoas, e as pessoas mudam o mundo”. Educar, ensinar, em sua visão, é um ato político, pois quando o indivíduo aprende, ele aprende para ser dominador, para ser dominado ou para aprender a pensar e ser livre, autônomo. Para Paulo Freire, “a educação é também um movimento estético, pois a escola deve ser um lugar de gente, de gentilezas, de bonitezas, de prosa e poesia, de trocas de conhecimento, de compartilhar aprendizagens e saberes” (formais ou não). Para o poeta, educador, teólogo e psicanalista Rubem Alves, a escola tem que “encantar” o aluno, encantá-lo com a possibilidade de vislumbrar novos caminhos e realizar sonhos.

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Antes, o biólogo suíço Jean Piaget era estudado pelos educadores. Hoje, na educação, a famosa Emi Pickler é estudada por suas teorias de desenvolvimento. E nossas raízes indígenas? Alguém já estudou a pedagogia do ensino indígena? Os conhecimentos e valores dos povos indígenas? Alguém sabe a diferença entre os povos indígenas e nós, povo da “cidade grande”? O famoso adágio africano: “É necessário toda uma aldeia para educar uma criança” deveria ser modelo mundial de educação, em que família, escola e sociedade se unem para educar todos. 

Vygotsky fala da importância ‘do outro’ na nossa aprendizagem, no nosso desenvolvimento: os limites, regras, saber ouvir não, saber dizer ‘não’, construir em grupo, pensar coletivamente... o que nos remete à democracia: ouvir e respeitar diferentes opiniões. Wallon fala da afetividade na educação, mas não a afetividade relacionada ao abraço, ao beijo, mas sim à cooperação, à empatia, o respeito. Sim: podemos incutir valores numa educação ‘afetiva”: que tem uma escuta ativa, que respeita o espaço do outro, a opinião do outro.

Tenhamos como referência nossos ancestrais colonizadores, ou para ser mais incisiva: nossos exploradores, invasores: Portugal é referência mundial na educação, já que é baseada na educação inclusiva, ou seja: o sistema educacional é organizado de forma a responder às necessidades de todos os alunos: educação integral é obrigatória para todos, até os 18 anos de idade, e os dirigentes buscam se aperfeiçoar constantemente, para atender às necessidades dos alunos. Todos os professores têm mestrado ou doutorado e ótimos salários. Além disso, aos 15 anos, os estudantes são preparados para uma “educação para o trabalho”, o que fomenta a mão de obra qualificada no país.

Nossa Constituição Federal Brasileira (de 1988) diz “A educação é um direito de todos e um dever do Estado e da família, no artigo 205”. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) também aborda a relação entre família, escola e educação, no artigo 2º. Mas será que temos cumprido essa lei?Na época da ditadura militar, a escola era para poucos (geralmente os mais abastados). Por isso temos como consequência tantos adultos não-alfabetizados, que não tiveram acesso à educação formal na idade escolar adequada. Além disso, mão de obra desqualificada para o mercado de trabalho. A parte boa é que as famílias valorizavam a educação e o professor (que era o Mestre respeitado e detentor do saber). Hoje, as famílias mal fazem sua parte, mas querem cobrar, agressivamente, que os professores as cumpram, tendo ou não condições. Antes, as crianças nasciam para o mundo; hoje estão protegidas numa redoma de vidro, intocável, que os deixa “mimados”, sensíveis à limites, mas principalmente sensíveis ao “não”.

Hoje, a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) e o PNE (Plano Nacional de Educação) exigem a garantia de vagas, acesso e permanência para todos, porém:

  • são poucas (insuficientes) as escolas existentes (as que estão de pé são velhas, com estrutura e instalações antigas e mal cuidadas) – principalmente as escolas estaduais
  • são muitos estudantes por sala/turma – a cada dia mais (imagine 35 crianças de 3 anos numa sala de aula com apenas 1 professor: algo INSANO, mas real)
  • o ensino do contraturno (nas escolas que têm período integral) é fraco, cansativo, inadequado, “mais do mesmo”, ao invés de trazer novas experiências e habilidades deixa os alunos revoltados;
    falta formação de qualidade e boas condições de trabalho aos docentes
  • escassez de materiais (pois as verbas adequadas nunca chegam). Imagine que algumas prefeituras oferecem tablets aos estudantes, mas os educadores não o recebem, e menos ainda têm formação para trabalhar com as novas tecnologias (tão comum nas mãos dos nossos pequenos)
  • sem contar as políticas públicas sociais: muitas famílias precisam que as crianças e jovens trabalhem para ajudar no sustento da casa (e assim abandonam a escola). 

Para falar resumidamente, há pouco investimento na educação (ou inadequado), professores sobrecarregados, doentes, e famílias que transportam suas carências e obrigações para os docentes

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Vale lembrar que na Idade Média, os professores eram castos, ou seja: freiras, padres... ser professor era ter um dom, era “amar ao próximo”. Mas hoje em dia sabemos que precisamos multiplicar e entender: a lei, a rotina de trabalho, exige que sejam profissionais, seres humanos (que erram e acertam), que estudam, pesquisam, educam (e cuidam). O que era dever da família e do Estado tem caído “nas costas” dos Mestres. Famílias não sabem ouvir “nãos” ou oferecer limites a seus filhos, e por isso a violência cresce nas escolas. A lei deveria exigir também segurança emocional, boas condições de trabalho, salários justos, formação de qualidade (atualizada), planos de carreira, benefícios, isenção de impostos. Afinal, o que seriam das outras profissões se não fossem os professores?

Leis não faltam, boas referências estão à disposição, teóricos temos aos montes – de renome internacional. Basta organização, planejamento e políticas públicas interessadas em que TODOS SEJAM FELIZES, em que TODOS aprendam, em que TODOS prosperem, se respeitem e respeitem regras e normas. Basta iniciativa, autonomia, liberdade, respeito à ciência, às pesquisas, às boas referências. 

Tenho esperanças na educação, em dias melhores, como sonhavam e viviam Paulo Freire e Rubem Alves. ‘Esperancemos’ juntos.

"Um sonho que se sonha só é apenas um sonho,

sonho que se sonha junto é realidade"

(Raul Seixas)

QUER SABER MAIS?

LEIS BRASILEIRAS NA EDUCAÇÃO. Educação, Direito de Todos. Disponível em https://www.mpba.mp.br/sites/default/files/biblioteca/crianca-e-adolescente/educacao/alimentacao-escolar/marcos_legais/art_205_208_cf.pdf Acesso em 16 out 2024

JEAN PIAGET. Disponível em https://novaescola.org.br/conteudo/1709/jean-piaget-o-biologo-que-colocou-a-aprendizagem-no-microscopio?gclid=CjwKCAjwtfqKBhBoEiwAZuesiOGCO-hX_0bA0nSg3A68RkWzZh3WjSM8D5gEtpB3OxHvs8_WGiSAThoCt8kQAvD_BwE. Acesso em 16 out 2024

PORTUGAL REFERÊNCIA EM EDUCAÇÃO. Disponível em https://unintese.com.br/blog/saiba-porque-portugal-e-referencia-em-educacao-inclusiva#:~:text=Em%20Portugal%2C%20cerca%20de%2098,quando%20falamos%20em%20Educa%C3%A7%C3%A3o%20Inclusiva. Acesso em 16 out 2024

RUBEM ALVES. BIOGRAFIA. Disponível em https://www.ebiografia.com/rubem_alves/ Acesso em 16 out 2024

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