“Eu não tenho medo da morte, mas oh
O que vou fazer se você me deixar?
Não me desampares, ó minha querida”
Do not forsake me oh my darlin
Trilha original de 1952
Ivo Aparecido Franco
Para mim, sinceramente um dos mais filosóficos faroestes de todos os tempos. O filme nos coloca de frente para uma questão profunda e dolorosa: se nós estivermos numa situação difícil, quantas pessoas realmente vão estar de coração aberto e prontas a ajudar? Desde já, peço desculpa ao leitor, entretanto, eu que aqui no Leia busco racionalidade na hora da escrita, vou abandonar um pouco esse protocolo para analisar essa obra.
Para mim, sinceramente um dos mais filosóficos faroestes de todos os tempos. O filme nos coloca de frente para uma questão profunda e dolorosa: se nós estivermos numa situação difícil, quantas pessoas realmente vão estar de coração aberto e prontas a ajudar? Desde já, peço desculpa ao leitor, entretanto, eu que aqui no Leia busco racionalidade na hora da escrita, vou abandonar um pouco esse protocolo para analisar essa obra.
Se não quiser spoiler, pare aqui.
Will Kane, brilhantemente interpretado por Gary Cooper está no dia do casamento com Amy (Grace Kelly), quando recebe a notícia de que um desafeto seu teria saído da prisão. A história inteira gira em torno do drama de Will, tentando desesperadamente angariar ajuda para combater essa suposta gangue que deseja matá-lo, algo que faz em vão, pois ninguém se dispõe a auxiliar.
A partir deste ponto, eu poderia assumir a posição de Ayn Rand e admitir que a humanidade não só é, como precisa ser individualista. Sei que isto não é verdade, ainda há pessoas boas no mundo. Porém, caro leitor, o longa de 1952 retrata uma possibilidade real. Você duvida? Precise realmente de ajuda e fatalmente constatará que tenho razão. Alguns podem até te ajudar por obrigação, mas uma vez obrigados o farão de má vontade. Outros de modo mais sincero e cruel, podem simplesmente te virar as costas e pronto. Ambas as situações servirão bem para que você possa saber com que tipo de gente está lidando.
O duelo ocorreria ao meio dia. O esforço de Will para conseguir que alguém o ajude é tão intenso quanto as negativas que recebe. Ele insiste. Pedido após pedido, negativa após negativa, aquela tinta de hipocrisia que cobre o rosto ingrato da cidade vai derretendo e manchando as ruas. Toda obra de arte é apenas uma metáfora daquilo que ocorre na vida real, porque a realidade é sempre mais dura, porque no mundo real, a dor não para na porta fechada. Vai para além disso: quem passa por este processo começa a perceber que qualquer um tem mais valor: eventualmente até pessoas a quem você tenha ajudado te viram as costas. É preciso ter força e coragem, muita coragem para enfrentar este tipo de situação até o final.
Ocorre que quando chega o meio dia, finalmente se desenvolve o duelo e o faroeste volta ao normal. Will consegue vencer seus algozes com ajuda providencial de Amy, a mulher que o ama. Vai por mim. Nessas situações, nada melhor do que tua esposa, que te entrega de volta um amor sincero, para que você não se sinta só diante dos perigos.
High Noon ou Matar ou Morrer, aqui no Brasil, pretendia ser uma alegoria contra o Maccartismo, situação a respeito da qual não vou dissertar muito. Entrementes, a película fez muito mais do que prometia: partindo de uma situação particular, conseguiu ser universal, atingir um ponto bastante dolorido, ao menos para quem já viveu ou vive algo parecido. Caro leitor, se você está vivendo algo assim, ninguém quer te ajudar, ou está de má vontade, segue! Dobra teus joelhos para Deus e levanta a cabeça!!! Como diria Martin Luther King Jr, “se não conseguir correr, anda, se nem isto conseguir fazer, rasteja, mas não pare!!!"
Sobre a história, ainda poderíamos problematizar mil coisas mais, tamanha sua densidade e profundidade. O que adotar para vida, o individualismo de Ayn Rand ou o coletivismo de Karl Marx? Por que ajudar o outro? Existe alguma razão especial para ajudar os outros? Talvez você ache que não, até precisar de ajuda!
Encontre um amor verdadeiro, leitor. Ache uma pessoa que te respeite, que não te humilhe, que sinta o mesmo por você, apenas porque ama e, independente do que os outros pensem, entregue seu coração para esta pessoa, não porque você está interessado em nada, mas simplesmente porque você tem um amor sincero por ela. Foi o meu caso, leitor. Dei a sorte de encontrar o amor da mulher mais forte que já conheci até hoje! Farei questão de que ela leia este artigo. Deus permitiu. Faça o mesmo, ela não te ajudará por obrigação, ou por consciência pesada. Vai caminhar par e passo contigo e finalmente, quando você estiver de frente para o Lee Van Cleef, o Lobo Mau ou algo assim, ela estará do teu lado de cabeça erguida. Mas seja homem. Também esteja ao lado dela quando ela precisar.
Do not forsake me, oh my Darling! Eu estava ouvindo a trilha sonora original de 1952 enquanto escrevia sobre a história. No mais, meu amigo, minha amiga, peçam a ajuda de Deus.
Responderei o questionamento deste western com outro western: a cena final do longa metragem Django 1966, de Sérgio Leoni, mostra o protagonista, dono do legendário caixão com metralhadora, acuado, atrás de uma cruz, com os dedos em carne viva. Ao mesmo tempo, uma gangue invade o cemitério a fim de matá-lo. Quando todos os espectadores apostam na morte de Django, mesmo com a mão aos pedaços ele fulmina seus inimigos, apesar de estar sozinho. A imagem da cruz na cena é a invocação clara da ajuda de Deus. Por isto, leitor, lute, tenha fé, não desista! Se o Criador estiver do teu lado, basta!
Do not forsake me oh, my Darling! (trilha sonora)
https://www.youtube.com/watch?v=hsDyrZVqipA