Por essas loucuras que a gente promove de vez em quando, certo dia eu acordei e pensei comigo mesmo: “E se eu mandasse um e-mail para o Noam Chomsky.
Algum infeliz inventou que Chomsky morreu, graças a Deus é fake news. Ele é um dos maiores intelectuais do planeta, tendo participado de vários debates históricos e com contribuições definitivas na área da lingüística. Para minha surpresa, tem um povo na internet que usa as falas de Chomsky como ASMR, sigla designada para algo que faz dormir. Considero um profundo desrespeito, entretanto, partindo dessas pessoas, acho até coerente, uma vez que estão mesmo destinadas ao sono eterno. 
Sabendo que as chances eram parcas, ainda sim, encaminhei meu e-mail a ele no meu pobre inglês:

Para resumir o que disse aí em cima (desculpem pelo inglês), pedi a ele que analisasse minha proposição de que a Educação se tornasse um poder republicano e enviei  meu livro sobre o assunto. Sendo quem era, Chomsky não tinha obrigação nenhuma de responder meus e-mails. Assim, enviei a mensagem para ele dizendo a mim mesmo: não vai acontecer. 
Em completa surpresa, quando abri a caixa de mensagens, dia daqueles da pandemia, encontrei o seguinte:

Puxa vida, ele respondeu! Um dos maiores intelectuais do mundo me respondeu e ainda por  cima disse que o tópico central do meu livro era interessante! No fundo eu sabia que ele não ia ler meu livro, afinal, como ele disse no e-mail, estava sobrecarregado de tarefas. Chomsky ministra palestras no mundo inteiro.

Eu, animado com o sucesso da empreitada, tentei comunicação mais algumas vezes, para ver se conseguia de novo. Fã é assim, deu uma brecha a gente quer um pouquinho mais. Mandei um novo e-mail:

Basicamente aqui, perguntei ao professor Chomsky a respeito da educação brasileira e também falei a respeito da dificuldade que as crianças têm para interpretar textos. Ainda perguntei quem ele considerava grande educador mundial.  Para nova alegria, ele respondeu outra vez:

Bom, Noam indicou Paulo Freire como grande educador. O que dá desgosto é que por aqui, na terra do próprio Paulo, um monte de gente fala mal dele sem nem ter lido um livro do sujeito. Críticas à parte, ele respondeu de novo e eu fiquei extremamente honrado com isso.
    Um dia ouvi um certo “filósofo” afirmar que a linguagem era mais pobre nos dias de hoje que nos tempos antigos. Desde que ouvi isso fiquei com uma dúvida na cabeça. Será que realmente a linguagem humana se empobreceu com o tempo? Então, já que tive acesso, resolvi perguntar ao mestre mais uma vez:

Ele disse que não havia razão para crer que a linguagem era superior no passado e as mudanças eram somente algo cultural. O tal “filósofo” de onde ouvi isso, havia falado besteira.
Bom, eu disse a mim mesmo que nunca divulgaria esses e mails, a fim de que ninguém achasse que eu estava querendo aparecer ou algo assim. Contudo, quis fazê-lo em homenagem ao grande Chomsky, que graças a Deus está vivo, sujeito que entrou em debate com figuras como William Buckley e Gore Vidal. Noam faz parte da história da humanidade e não tinha obrigação nenhuma de interromper as atividades no MIT para falar comigo. Me senti profundamente honrado por conhecer a humildade e educação desse sujeito, que fez reflexões tão fundamentais sobre o neoliberalismo e também no campo da linguagem. Sendo assim, termino essa mensagem dizendo: “Noam, que suas ideias vivam para sempre em nome de tempos melhores para a humanidade. E muito, muito obrigado mesmo por responder meus e mails.” Eu ainda tentei cavar uma entrevista aqui para o jornal, mas não consegui, acho que também seria demais. kkk