Professora Renata Saggioro Silva
Arte rupestre (pintura numa caverna brasileira) feita há mais de 12 mil anos atrás
Estamos no final do ano, com ele as festas natalinas, a virada do ano... hoje são muitos os compartilhamentos de boas festas, de saúde, paz. Mas também e principalmente, de muita reflexão sobre o que fizemos durante o ano todo pra termos paz
Já dizia o poeta, na interpretação da cantora Simone:
“Então é Natal, e o que você fez?
O ano termina e nasce outra vez
Então é Natal, a festa Cristã
Do velho e do novo
Do amor como um todo
Então bom Natal
E um Ano Novo também
Que seja feliz quem
Souber o que é o bem”
Nossos Natais (quando digo NOSSOS, falo da humanidade de forma geral) ultimamente têm sido de guerras, fome, homicídios, desigualdade social, discriminações, racismo, violências e crueldades de todos os tipos). Mas será que sempre foi assim?
Retomemos um pouco de nossa história e origem: conhecemos, mais popularmente, como uma festa cristã, que celebra o nascimento de Jesus (aquele que veio de uma região onde a cor da pele jamais poderia ser branca, aquele que, HISTORICAMENTE existiu, pois seja você cristão ou não, Jesus foi um personagem bíblico mas muito mais que isso, ele foi histórico. Jesus foi aquele que trouxe as palavras de amor, paz, compaixão, solidariedade, amor e tantas outras... tão esquecidas nos dias de hoje). Jesus foi aquele mensageiro (um entre tantos, conhecidos mundialmente) que pregou sobre RESPEITO, DIGNIDADE, DIREITOS HUMANOS, AMOR. Era ele quem falava sobre “honrar pai e mãe”, “não matar”, por exemplo. Mas também foi ele quem foi crucificado por compartilhar estas palavras, estas reflexões, esta filosofia de vida (assim como os povos indígenas, os ciganos e tantos outros povos perseguidos, humilhados, massacrados em tempos mais atuais).
Porém, faz-se saber que a celebração de Natal (instituída em 25 de dezembro pelo Papa Julio I) foi criada para substituir uma celebração pagã, que acontecia muitos séculos antes (Festa de Saturnália, que acontecia entre 17 e 25 de dezembro). A teoria do menino Jesus na manjedoura descrita na Bíblia surgiu bem depois do conceito de celebração de Natal, e muito provavelmente na data incorreta, já que muitos estudiosos afirmam que Jesus nasceu em abril. Para a igreja católica da época, a Saturnália, que era uma festa da Antiga Roma em homenagem ao deus Saturno, deveria ser banida da história, dos escritos, pois se tratava de espaços de abundância e prosperidade agrícola mas sem regras ou limites políticos (pois aconteciam jogos de azar e contação de piadas, ações que não poderiam acontecer durante o restante do ano). Nessa festa havia muita alegria e muita igualdade social: os senhores serviam seus escravos e os festejam duravam de 3 a 7 dias (momento em que tudo parava: política, economia, religião). A proposta da Igreja era substituir essa festa pela festa do nascimento de Jesus (Natal: nascimento).
De qualquer maneira, foi mantida a ideia inicial da visita aos amigos e da troca de presentes. Na Antiga Roma, trocavam-se artesanatos. Na Era Cristã, Jesus ao nascer, recebeu presentes dos três Reis Magos, e após os séculos III e IV d.C. temos a figura europeia do Papai Noel (ligada inicialmente a um deus pagão nórdico e depois a São Nicolau, um bispo católico barbudo e de família rica que ajudava os pobres mas principalmente as crianças órfãs).
Participei certa vez de um curso chamado “VALORES QUE NÃO TÊM PREÇO”, organizado pela Editora Palas Atena, e uma das palestras com professor renomado em história natural, dizia que nos primórdios da humanidade jamais existiu “homem das cavernas que batia na cabeça das mulheres e saía arrastando”, jamais existiam guerras, já que o tempo era de busca pela sobrevivência. Era uma era em que pequenos grupos de seres humanos vagavam pelo mundo a procura de alimento e água e quando raramente se encontravam, faziam festas tão amorosas, tão calorosas, tão lindas, que deixavam registradas nas cavernas a alegria desse encontro com desenhos deslumbrantes (hoje em dia encontrados em vários países, inclusive no Brasil).
Tudo isso é história, são fatos que aconteceram e deixamos aqui registrados para conhecimento. Não importa sua crença, sua religião ou sua opinião neste caso, pois estamos lidando com FATOS. O que queremos citar é que, de qualquer maneira, esta é a época das nossas avaliações internas: o que fizemos que poderíamos ter feito melhor, quais os próximos passos para realização de nossos sonhos para o ano que se inicia, o que devemos deixar pra trás... é tempo de refletir e de ESPERANÇAR, como diz o filósofo e professor Paulo Freire, de ter esperanças de sermos melhores, de termos um futuro melhor para nós, nossa família, mas também para nossa comunidade, nosso planeta.
Também é tempo de buscarmos nossas raízes, nossas origens, nossa ancestralidade. É momento de rever nossos conceitos e conhecimentos, entendendo nosso cotidiano. É tempo de conhecer e reconhecer nossa história, nossa identidade, e pra isso é importante honrar pai e mãe (estejam eles nesta ou em outra dimensão), é tempo principalmente (como fazem os ciganos e povos originários com sua sabedoria milenar), é tempo de “glorificar seus velhos e dignificar suas crianças” e viver nosso presente com alegria.
Trago algumas reflexões do sábio Professor, ator e indígena Daniel Munduruku, numa live que fez em 2021 para os alunos da EJA de Diadema (recomendo assistir e conhecer as sábias palavras dele): “nosso povo se entende parte da natureza, e por isso fazemos parte de uma coletividade. Por isso, pra nós, não é justo que uns tenham tanto e outros nada. Diferente do homem da cidade, que só pensa em tempo, que diz que tempo é dinheiro. Mas nós indígenas entendemos que futuro não existe, o tempo de se viver é agora. Os indígenas jamais diriam a uma criança o que o homem da cidade sempre pergunta ‘o que você quer ser quando crescer’, pois quem pergunta isso não acredita que nossas crianças JÁ SEJAM INTEIRAS HOJE. Essa pergunta mostra que os homens da cidade acreditam que nossas crianças são um projeto de ser gente e de possuir coisas, de TER ao invés de SER e pra isso vivem correndo atrás do futuro, do que terão, do que farão... O povo indígena olha pra trás, para os ensinamentos, para as experiências vividas e busca uma solução positiva para suas questões, para viver o momento presente. Meu avô dizia que o presente é o tempo, e é uma dádiva que recebemos, se acordamos, se estamos vivos, devemos ter responsabilidade com esse dia, com esse presente, pois ele, esse dia, esse instante só vai acontecer uma vez na nossa história, portanto esse dia é o mais especial. Pra ser grato, procurar viver da melhor maneira possível, cumprimentar e amar as pessoas, vivendo cada dia como um único dia, já que acontecerá uma única vez na nossa história. Só existe um dia pra ser feliz, e esse dia se chama HOJE, AGORA. Então devemos nos esforçar pra isso, sendo gratos e aproveitando esse dia. Nós indígenas, nunca permitimos que um único de nós passe fome, que nenhum avô seja maltratado, que nenhuma mulher seja agredida, porque acreditamos no coletivo, na gratidão e que fazemos parte da natureza. Assim respeitamos o tempo dela. Aprendemos que o passado é bom e que ele nos dá exemplo e forças para aproveitar nosso presente... Quem está de passagem não pode levar tantas coisas nas costas”.
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E você, o que leva para 2024?
Quais ensinamentos de seus pais, avós, bisavós traz para seu presente?
Está aproveitando sua vida, seu dia?
E os ensinamentos do histórico Jesus: amor, solidariedade, respeito, compaixão... tem conseguido praticar?
Realmente, é pra se pensar, repensar.
Já que estamos de passagem, vamos deixar boas pegadas”
(autor desconhecido)
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“Então é Natal, pro enfermo e pro são
Pro rico e pro pobre, num só coração
Então bom Natal, pro branco e pro negro
Amarelo e vermelho, pra paz afinal
Então bom Natal
E um Ano Novo também
Que seja feliz quem
Souber o que é o bem
Então é Natal, o que a gente fez?
O ano termina, e começa outra vez
E então é Natal, a festa Cristã
Do velho e do novo, o amor como um todo.”
Concepção artística do designer gráfico especialista em reconstituição facial forense Cícero Moraes mostra que judeus que viviam no Oriente Médio no século 1 tinham a pele, o cabelo e os olhos escuros