Já vou avisar que não é sobre futebol, meus amigos. Certo. Não vou decepcionar quem gosta do assunto porque também aprecio. Mas vamos combinar: há no Brasil mesas redondas infinitas para discutir futebol, um monte de gente querendo saber se fulano ou ciclano estava impedido por um fio de cabelo de distância numa proporção de parar bolsa de valores!!
Nos últimos dois anos, Roger Guedes se especializou em fazer gols de todo jeito, acho até que merecia um lugar na seleção brasileira, só que a seleção colocou como técnico Fernando Diniz! Fernando Diniz... Abel Ferreira ganhou uma porção de títulos pelo Palmeiras, Dorival Júnior fez excelentes trabalhos pelo São Paulo e Flamengo, vai a CBF e chama o Diniz. Pode chamar. Só que não chamar os melhores tem um preço, que já vem sendo cobrado: a população não acompanha mais a seleção brasileira do jeito que acompanhava, aliás não acompanha de jeito nenhum.
Acho engraçado que para a imprensa se o sujeito não presta, não presta mesmo. Rogério Ceni fez um excelente trabalho no São Paulo escolhendo jogadores e montando o time que o Dorival, com maestria, vem comandando. Mas a mídia age como se o Rogério não tivesse importância nenhuma. Se eu fosse o São Paulo ou qualquer outro time, contratava o Rogério para ser diretor de futebol. Acho que ele é um grande técnico e será ainda maior, precisa melhorar o quesito gestão de grupo, aí será o maior de todos.
Voltando a Roger, vinha desenvolvendo um trabalho incrível. Algumas arrancadas dele lembravam os bons tempos de Carlitos Tevez. Dentro e fora de campo vinha cumprindo um papel incrível, inclusive na minha sala de aula. Já vou explicar.
Há alguns anos tive um aluno que, em determinada escola, começou a se vestir como certo jogador de futebol, assumir os modos, os gestos, manias e comportamentos. Para preservar o aluno vamos fazer de conta que é o Roger Guedes, que é mais atual. Estava havendo ali um problema de aceitação. A vida daquele aluno não ia bem em uma série de aspectos, então ele resolveu assumir esse personagem, digamos que seja o jogador do Corinthians. Colocou o brinco de cruz, descoloriu o cabelo, virou bad boy, parou de estudar, etc. Não sou psicólogo nem vou aqui apregoar verdades sobre áreas em que não sou especialista. Porém já notei que em alguns casos, pessoas assumem “alter egos” por diversos motivos. O cover pode ser um admirador febril de seu respectivo ídolo, contudo pode ser também simplesmente alguém que detesta a si mesmo. Um cara que imita o Michael Jackson, por exemplo, talvez o faça pela razão de querer ser admirado como o “Rei do Pop”, já que a própria vida dele não tem graça.
Ocorre que as aulas transcorreram durante o ano e depois de muita conversa, bastante Paulo Freire (que é brilhante), discussões sobre uma série de assuntos, comecei a ver o aluno com livros, buscando pesquisas, tirou o cabelo descolorido, enfim, se livrou da cruz (a da orelha?). Do meio para o fim do ano já mais consciente de si, virou ele mesmo! Me agradeceu muito, inclusive. Isso não tem preço.
Ok. Esse é um aluno, um caso. Não somos especialistas, nós professores, em psicologia para conseguir saber o que se passa na mente de cada aluno que não aprende. Casos como o desse garoto indicam que algum conhecimento de psicologia é fundamental dentro das salas de aula, entretanto é preciso oferecer ferramentas, inclusive salariais, ao professor e parar de dar pancadas nesse profissional. Determinados setores da sociedade veem professores como inimigos. Professores não são inimigos. Inimigos são políticos sem proposta que não investem da forma correta e querem jogar a culpa dos insucessos todos nas costas do magistério.
Precisamos entender que a educação e o futebol são processos completamente coletivos. Nem os professores conseguirão mudar essa crise terrível sozinhos, nem a seleção vai ganhar nada se continuar pensando que só um jogador ou jogadora ganha campeonato. O neoliberalismo tem potencializado para o bem ou para o mal o mito do herói, de forma que parece que precisa ter um mundinho para cada pessoa.
O professor Luxa vem fazendo um excelente trabalho no Corinthians, tudo bem que acho que Murilo é meia, não zagueiro. Quanto ao Roger, não adianta chamar de mercenário. Quem não ia? É muito dinheiro! Estava na hora de sair mesmo, tanto do Corinthians, quanto da sala minha de aula.
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