Ivo Aparecido Franco
Que comercial! Quantos elementos num espaço tão curto de tempo. Pra ter uma ideia do quanto gostei, já assisti umas seis ou sete vezes!!! Quando a coisa é bem feita, é bem feita e tem que ser dito.
Muitos aproveitaram esse momento para questionar o papel da Volkswagen durante a ditadura militar e acho que é algo que precisa ser lembrado mesmo, mas isso o Google e os livros de história estão aí para informar. Aqui gostaria de discutir a campanha em si, muito significativa de uma série de informações.
Em primeiro lugar temos de parabenizar a Alma BBDO, agência responsável pela produção da peça. Fez lembrar os tempos em que as propagandas não eram apenas algo que a gente, enfadado, pula, ansioso para assistir nosso vídeo no You Tube. Quem tem mais ou menos a minha faixa etária lembra bem, por exemplo, do memorável comercial da Folha, aquele do Hitler e outros como o do primeiro sutiã. Acho bom que seja assim porque no fim das contas as propagandas ocupam um espaço de tempo em nossas vidas, não era para ser algo banal. Houve vários bastante interessantes ao longo dos anos 80 e 90, mas vamos à análise desse aqui. Mostrar Maria Rita na nova Kombi enquanto Elis dirigia a antiga, foi simbólico, poético. Demonstrou de forma bastante inteligente a distância incomensurável entre passado e futuro. As cenas dos tempos de “Como nossos pais” são inspiradoras e capazes de causar algo nostálgico até mesmo em quem não viveu plenamente a década de setenta, no meu caso, por exemplo, que só nasci nela. O segundo ponto a se destacar é o quanto assusta ao mesmo tempo encanta, a presença da inteligência artificial em nossas vidas. O instante da reaparição da maravilhosa Elis Regina na tela nos remete diretamente ao memorável momento de aporia coletiva causado pelo filme dos irmãos Lumiére sobre um trem, que, projetado na parede, levou os espectadores a saírem correndo apavorados, sendo aquela a primeira projeção da história da sétima arte. Os pobres espectadores, contemplando pela primeira vez o cinema, acharam que realmente havia uma locomotiva dentro da sala. Hoje, quando vimos Elis Regina nos sorrir lá do além, via inteligência artificial, dirigindo um carro, experimentamos um espanto da mesma natureza, de um modo diferente que leva a várias perguntas: até onde vai essa revolução? Será que um dia conseguirão acoplar o DNA do ente querido a uma inteligência artificial? Se isso for feito, será a pessoa de verdade ou uma outra pessoa? Questões éticas e filosóficas à parte voltemos ao tema.
A presença do poeta Belchior na letra forte de “Como nossos pais”, nos dá alegria pela lembrança do gênio, porém, tristeza pela decadência de nossa música, que não dá espaço mais a grandes talentos como o do autor de “Galos, noites e quintais”. Esperamos um dia que isso mude, porque nossa música não morreu, ela ainda é uma das mais ricas do mundo em ritmo e em lirismo.
As polêmicas políticas e éticas acerca da peça publicitária serão muitas e por isso que é espetacular. Longe de querer aqui esgotá-las, quero que haja cada vez mais discussões, porque debates ajudam aos que, de coração leve, saibam pensar. Contudo, vou levantar aqui um ponto que não chega a passar despercebido, mas sei que poucos darão o merecido destaque.
A participação de Maria Rita ao lado de Elis, é algo de cortar o coração. Chega a doer. A linguagem corporal da filha diz uma porção de coisas sem precisar falar absolutamente nada. Passou as mãos sutilmente pelo volante, transferindo ao objeto um carinho que ela claramente queria fazer em sua mãe, Elis. O olhar de Maria Rita para o outro lado é literalmente um contato transcendente e forte com “o outro lado”. Por um instante o olhar brilhante carregado de lágrimas, longe de ser o de uma pessoa só, foi o de muitos, que tendo perdido um ente querido, ou vários, gostariam de tê-los para si de novo nem que fosse por um instante. É, Régis Tadeu. Chorei também e sou fã do seu canal, por sinal, como são as coisas! A análise do youtuber acerca do comercial também é muito interessante. Só que, Régis, já me considero um cara relativamente frio. Talvez vou conseguir não me emocionar com uma coisa dessas quando meu coração tiver petrificado completamente. Curiosamente, o filme inteligência artificial aborda essa temática, quando a “Fada Azul” concede ao personagem de Joel Osment a possibilidade de ver sua mãe por um dia só. Aqui, poderíamos passar mais um texto inteiro discutindo. Que baita filme, quem não viu, veja. Na visão Spielbergiana da realidade, ocorre uma intrigante versão em que a I.A sente saudades e tenta trazer de volta a vida um ser humano e faz isso utilizando poderes de extraterrestres, quer saber como, veja o filme.
Parabéns aos publicitários. Viva Maria Rita, viva Elis Regina. Viva o poeta Belchior, gigantesco! Viva a democracia! Não, amigos, não precisamos viver como nossos pais, claro que não e não vivemos mais. Da década de setenta para cá, conquistamos uma série de direitos e sem dúvida precisamos ter cuidado para não perdê-los. E mais: a exemplo do que faziam Elis e Belchior, não devemos aceitar a realidade feito algo imutável, como sugerem supostos filósofos por aí. Ao invés de nos indignarmos com um anúncio, precisamos fazer alguma coisa hoje, teórica e politicamente pela educação e pela mudança, só que é outra história. Não se transforma o mundo jogando pedras num anúncio. Uma das formas de fazer isso de maneira efetiva é escrevendo um livro, foi o que fiz. Se o mundo não está legal, temos de nos perguntar de forma bastante objetiva o que pode ser feito no sentido de transformá-lo. O que mais pode ser realizado no sentido de aprofundar o rol das conquistas sociais que ainda podemos atingir?
Sobretudo o que presenciamos no filme curtinho de um minuto e tanto é o encontro daquilo que há de mais incrível e tocante no amor entre mãe e filha. Quem não dá o devido valor a esse tipo de relação, assista a cena e reflita um tanto sobre o assunto, valerá a pena. Tenho absoluta certeza que Elis, de onde estiver, parou de cantar um pouco para alegrar o Criador e ficou feliz junto com a filha por meio desse momento incomum de congraçamento entre dois seres humanos que se amam.
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